Prevenção de lesões é o novo consenso da fisioterapia esportiva

A fisioterapia é definida pelo dicionário Houaiss como "especialidade paramédica que emprega agentes físicos, massagem e exercícios no tratamento de doenças". No esporte, contudo, as novas perspectivas da área são cada vez menos voltadas ao tratamento. Em vez disso, os profissionais desse setor apostam no ditado que diz que "é melhor prevenir do que remediar".
Trabalho do CORE
"A fisioterapia hoje ainda é muito voltada à recuperação, mas o futuro é evitar as lesões. O fundamento principal dos próximos anos vai ser o trabalho de prevenção. Um atleta é um patrimônio do clube e o tempo que ele fica inativo traz prejuízos à equipe", disse o fisioterapeuta do Santos, Nilton Petrone, também conhecido como Filé.


A postura de Filé representa a perspectiva mais aceita pelos profissionais da fisioterapia atualmente. "A principal preocupação que nós devemos ter é a manutenção dos atletas. Nossa atuação nas comissões técnicas tem aumentado muito porque é fundamental trabalharmos em conjunto com o treinador. Todos nós devemos pensar no que deve ser feito para os jogadores estarem sempre em campo e sempre no seu melhor nível", ratificou Mauren Mansur, fisioterapeuta do Internacional.

Algumas equipes brasileiras de futebol já começam a trabalhar com o conceito de prevenção como base na fisioterapia. O que falta para isso, contudo, é um padrão geral de ação. As técnicas e as abordagens utilizadas ainda revelam diferenças contundentes.


Reforço Muscular com Fita Suspensa

"Nós fazemos um trabalho integrado com a comissão técnica, sobretudo com o preparador físico. Conversamos para não sobrecarregar os atletas. O ideal seria fazermos sessões de tratamento entre os treinos, mas o excesso de jogos quase nunca permite isso. Portanto, vamos tentando equilibrar a partir do histórico individual e dessa abordagem coletiva", exemplificou Lúcio Erlund, coordenador médico do Coritiba.



Em contrapartida, outros clubes têm como base da base da prevenção de lesões o histórico dos atletas. Para isso, essas equipes fazem avaliações constantes quanto ao desgaste e a situação muscular de seus jogadores.

"Coletamos dados por meio de avaliações musculares e temos programas para trabalhar nesse sentido. Um deles é o Papi (Programa Avançado de Prevenção Individual), que reúne dados sobre postura, movimentos e equilíbrio muscular, por exemplo. Com isso, buscamos corrigir o que está errado. Outro foco é o Pap (Programa Avançado de Prevenção). É uma forma de se trabalhar o grupo como um todo buscando informações históricas sobre os tipos de lesões mais comuns nos elencos e em partidas de futebol. Trabalhamos com diversas ações preventivas como estabilização central, orientação na angulação na prática de exercícios, aceleração e exercício da musculatura do glúteo", enumerou Marco Túlio Melo, o Marcão, fisioterapeuta do Atlético-MG.

O Grêmio monta um histórico dos atletas desde as categorias de base para tentar facilitar o trabalho da fisioterapia. "Com esses dados, podemos saber se determinado jogador tem mais tendência a sofrer uma lesão", ponderou o fisioterapeuta da equipe tricolor, Henrique Valente. "No caso dos que não começaram no clube, buscamos informações em exames ou em conversas com eles", completou.

Além dos dados sobre os atletas, o Náutico aposta em técnicas de alongamento e pretende incluir SGA (Stretching Global Ativo), um tipo de tratamento que tem os mesmos princípios do RPG e é especialmente voltada a esportistas. A principal vantagem desse tipo de abordagem é a diminuição dos efeitos da sobrecarga das estruturas musculoesqueléticas, que ocorre em decorrência dos exercícios repetitivos de cada atividade. "O clube não têm recursos para comprar equipamentos muito modernos e precisa trabalhar para não perder seus atletas", sintetizou Silmário Gomes, fisioterapeuta alvirrubro.


Outro clube que realiza uma abordagem diferente para coibir lesões é o Atlético-PR. Na equipe rubro-negra há um controle metabólico dos atletas, que é feito e parceria com as nutricionistas para coibir problemas físicos. Atualmente, por exemplo, o clube gasta apenas 1,5 litro de óleo por mês para preparar as refeições de todos os atletas e das comissões técnicas de todas as categorias.

"Temos um quadro individualizado de cada atleta e sempre buscamos a prevenção das lesões. Esse é o grande ponto para todas as áreas no esporte. A nutrição, a medicina, a fisioterapia, a fisiologia... tudo deve ser orientado à prevenção de lesões. O bem-estar do atleta deve ser a grande preocupação", determinou Paulo Brofman, coordenador do departamento médico do Atlético-PR. 

Exercício de reforço muscular funcional na slideboard



Ainda que não exista uma padronização quanto aos tipos de tratamento, o norte da fisioterapia - e de outras áreas da medicina esportiva - está totalmente claro para a maioria dos profissionais de clubes brasileiros. O paradigma de tratamento e recuperação deve perder espaço nos próximos anos para a manutenção do alto rendimento e para o combate aos problemas físicos.

"A cobrança no futebol nesse sentido é muito grande. Não queremos nos focar apenas no tratamento emergencial. Ganhamos muito tempo quando conseguimos prevenir as lesões. Nosso trabalho consiste em tentar reproduzir os movimentos executados durante um jogo de futebol, durante as sessões de treinos e até no trabalho de musculação. Isso tem gerado uma sensível melhora no rendimento e tenho certeza que é um dos fatores que colocam o Botafogo como um dos melhores times do Brasil", definiu Flávio Meirelles, fisioterapeuta da equipe alvinegra.

Outro consenso entre os profissionais é que o trabalho deve ser direcionado à interdisciplinaridade, com participação e intervenção constante de profissionais de várias áreas em um mesmo objeto de estudo, que é o jogador.

"O grande diferencial atualmente é o modo interligado de trabalho. Toda a equipe de fisioterapia responde ao doutor Luiz Runco, médico do Flamengo. Mas conversamos sempre com profissionais de outras áreas, como fisiologistas, nutricionistas, massagistas e psicólogos, para termos um suporte maior para as nossas ações", contou Leonardo Reis, um dos fisioterapeutas do time da Gávea.

O problema é que os limites dessa atuação interdisciplinar muitas vezes estão suscetíveis às oscilações na comissão técnica. "É por isso que eu digo que é fundamental que a equipe médica seja fixa e não mude a cada queda de treinador", avaliou Mauren Mansur. "O treinador deve conhecer nosso trabalho para saber quais são os pontos mais importantes no processo de recuperação", completou Marcão.


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