Futebol é força ou é arte?


Reproduzo aqui um artigo escrito por César Cavinato Abad. O Estudo investigou ocorrência de interrupções por lesões em partidas de futebol masculino; alvo era verificar, dentre as paradas para atendimento médico por lesão, quais eram realmente verdadeiras
Por tanto, vamos à ele...


A distância média percorrida por um jogador de futebol durante uma partida é de 10.000m podendo esta variar entre 8.000m e 12.000m conforme posição, padrão técnico do jogador e o esquema tático adotado pela equipe (STØLEN, CHAMARI, CASTAGNA e WISLØFF, 2005; GREGSON, DRUST, ATKINSON e SALVO, 2010).

Num passado não muito distante, muitos treinamentos físicos eram voltados para capacitar os jogadores a percorrerem estas distâncias, mas com a evolução tecnológica e a possibilidade de monitoração das ações dos jogadores durante os jogos, foi possível descobrir as intensidades específicas das ações mais importantes que definem o jogo (CARLING, BLOOMFIELD, NELSEN, REILLY, 2008). Com estas técnicas foi possível verificar que nas mais de 1000 ações motoras por partida a maioria dos deslocamentos feitos em alta intensidade (>19km/h) corresponde a distâncias entre 2 e 10m, que 80% do tempo os deslocamentos são feitos em baixa intensidade (< 13 km/h) e menos de 1% do tempo há contato do jogador com a bola (RIENZI, DRUST, REILLY, CARTER e MARTIN, 2000; DI SALVO, BARON, GONZALEZ-HARO, GORMASZ, PIGOZZI e BACHL, 2010; STØLEN, CHAMARI, CASTAGNA e WISLØFF 2005).
Como as principais ações motoras da modalidade (chutes, saltos, divididas e cabeceios) são realizadas em um espaço curto do campo em alta intensidade, elas dependem fundamentalmente do metabolismo anaeróbico alático, especialmente dos substratos energéticos de ATP (adenosina tri-fosfato) e CP (creatina-fosfato). Pelo exposto, embora se reconheça a importância do metabolismo aeróbico como predominante no futebol (STONE, e KILDING, 2009), dificilmente ele será o determinante do desempenho.
Estudos recentes evidenciam cada vez mais que os determinantes de desempenho nas partidas de futebol são a precisão, a velocidade e a força.
O futebol com passes lentos, pouca movimentação, de marcadores pacientes que esperavam para ver o que os atacantes iriam fazer já não existe mais nos tempos modernos. Muitos defendem que jogadores menos habilidosos e mais fortes conseguem anular jogadores mais habilidosos, porém mais lentos ou mais fracos.
Isso fica evidente para torcedores, espectadores e profissionais da área que percebem cada vez a necessidade de maior movimentação, melhor preenchimento dos espaços no campo, marcação acirrada e menos tempo para se tomar decisões. Com o exposto nos cabe mais uma vez fazer a pergunta: o futebol é arte ou é força?
Em julho deste ano, um estudo publicado no International Journal of Sports Medicine trouxe novamente à tona esta discussão. Porém, ao invés de analisar distância percorrida, controle de variáveis fisiológicas para treinamento, jogadas bonitas ou ocorrência de dribles desconcertantes, os autores avaliaram o futebol no campo das Artes Cênicas. Isso mesmo: o futebol das Artes Cênicas!
O estudo realizado pelo Prof. Daryl Alan Rosenbaum da Escola de Medicina da Universidade de Wake Forest investigou a ocorrência de interrupções por lesões em partidas de futebol masculino nos campeonatos da Copa America 2007, Copa da Ásia de 2007, Uefa Euro 2008 e Copa do Mundo na África 2010. O principal propósito do estudo foi verificar dentre as paradas nas partidas para atendimento médico por lesão quais delas eram realmente verdadeiras ou não.
Foram analisados 87 jogos com representatividade de 59 países, cinco confederações e seis continentes. Uma comissão julgadora com três avaliadores independentes, todos experts em medicina do esporte, determinava se a lesão era definitiva (LD) ou questionável (LQ). As LDs foram identificadas quando o jogador permanecia em atendimento no tempo igual ou superior a cinco minutos ou quando o sangramento era visível e as demais ocorrências foram classificadas como LQs. Dos jogos investigados, houve 980 paralisações por lesões. 71 delas foram consideradas LD, das quais 76,1% (54) tiveram atendimento no próprio campo e 50,7% (36) necessitaram de maca/carrinho; foi assinalada falta em 21,1% (15) delas e 5,6% (4) originaram cartão amarelo, não havendo ocorrência de cartão vermelho. Apenas 25,35% (18) destas faltas ocorreram no primeiro tempo (4,2% no primeiro terço; 11,3% no segundo terço e 4,8% no último terço), enquanto que 74,65% (53) delas ocorreram no segundo tempo (31% no primeiro terço; 26,8% no segundo e 16,9% no último terço da partida).
Em relação à localização do campo, 52,1% (37) ocorreram no meio; 31% (22) na defesa, e 16,9% (12) no ataque. A maior ocorrência destas LDs se deu no momento em que a situação no placar era vantajosa [38% (27) seguida de 36,6% (26) no empate e 25,4% (18) na derrota]. Em 43,7% (31) delas a equipe venceu o jogo, 25,3% (18) empatou e 31,0% (22) perdeu.
Das 909 paralisações consideradas como LQs, 25,3% (250) tiveram atendimento no campo, 10,6% (96) necessitaram de maca/carrinho; foi assinalada falta em 54,8% (498) delas, 16,8% (153) originaram cartão amarelo e 0,8% (8) resultou em cartão vermelho. 46,4% (422) destas faltas ocorreram no primeiro tempo (13,3% no primeiro terço; 15,5% no segundo terço e 17,6% no último terço), enquanto que 53,6% (487) delas ocorreram no segundo tempo (17,3% foram no primeiro terço; 16,5% no segundo e 19,8% no último terço da partida). 46,8% (425) foram no meio-campo, 28,8% (262) no ataque e 24,4% (222) na defesa.
A maior ocorrência destas LQs se deu no momento em que a situação no placar era vantajosa, 32,7% (297), seguida de 47,8% (435) na derrota e 19,5% (177) de empate. Em 43,7% (31) delas a equipe venceu o jogo, 31,9% (290) perdeu e 24,4 (222) empatou.
Por partida, a frequência média de interrupções para atendimento foi de 11,26s [7,3% do tempo total sendo (0,82) de LD vs 92,7% (10,44) de LQ]. Em cada partida, o jogador fica no chão em média 5,23 minutos para ser atendido. O tempo médio de interrupção por atendimento em cada partida é de 39,2s, chegando a um total de até 7,35 minutos de paralisação.
Desconsiderando os acréscimos dados pelos árbitros por substituições e se supusermos que as partidas durem apenas 90 minutos, este tempo de até 7,35 minutos de paralisação corresponderia a 8,2% do total dos quais 4,5 minutos (4,9%) seriam de pura encenação.
Com este estudo, mesmo sabendo que o futebol moderno necessita de força e velocidade, percebemos também que um pouco de arte não faz mal a ninguém. A não ser quando o time perde. Portanto, caro leitor, não estranhe se num futuro próximo alguns clubes adotarem em sua planificação de treinamento aulas de teatro.
A pergunta portanto está respondida. O futebol é arte!
FONTE: www.universidadedofutebol.com.br/2010/12/1,14906,FUTEBOL+E+FORCA+OU+E+ARTE.aspx?p=1


Comentários

Postagens mais visitadas deste blog

AS 13 PIORES LESÕES NO FUTEBOL

TRAUMA NO QUADRÍCEPS (TOSTÃO OU PAULISTINHA)

PUBALGIA