EFEITOS AGUDOS E CRÔNICOS DE UM PROGRAMA DE ALONGAMENTO ESTÁTICO E DINÂMICO NA PERFORMANCE EM JOVENS ATLETAS DO FUTEBOL

Por Diego Laureano Gonçalves




Introdução



O alongamento é uma técnica terapêutica e pode ser utilizada como forma de aquecimento para aumentar a flexibilidade ou diminuir a dor ao longo do movimento, com objetivos na melhora da performance e redução do risco de lesões.

Objetivo

Verificar os efeitos agudos e crônicos de um programa de alongamento estático em relação ao dinâmico na performance em jovens atletas do futebol.

Métodos

Estudo clínico randomizado de equivalência realizado entre agosto e novembro de 2010 junto a categoria sub-17 do Grêmio Torrense. Após preencherem os critérios de inclusão, atletas foram aleatóriamente alocados em dois grupos: alongamento estático ou alongamento dinâmico. Todos realizaram uma avaliação inicial e submetidos a primeira intervenção. Após foram novamente avaliados e ao término de 12 sessões de treinamento. Foram avaliadas as valências flexibilidade, impulsão, velocidade, força e recrutamento muscular.



Resultados

Entre o período de agosto a novembro de 2010 foram avaliados 18 atletas de futebol da escolinha Grêmio Torrense da categoria sub-17, com media de idade de 15,78 ± 0.81 (grupo alongamento estático 15,89 ± 0,92; grupo alongamento dinâmico 15,89 ± 0,92). Não houve diferenças estaticamente significativas em nenhuma das variáveis entre os dois grupos.





GRUPO ALONGAMENTO ESTÁTICO
GRUPO ALONGAMENTO DINÂMICO
p Valor
Idade (média, DP)
15,89 ± 0,92
15,67 ± 0,70
0,435
Cor
     Branco
     Preto

9
0

9
0


1,00
Lesão
     Sim
     Não

3
7

0
10


0,105
Posição do atleta
     Goleiro
     Lateral
     Zagueiro
     Volante
     Meio campo
     Atacante

1
0
1
2
2
3

1
3
2
1
1
1






0,416
 n Total
9
9
-

O grupo de atletas avaliados apresentava dois goleiros, três laterais, três zagueiro, três volantes, três meio campistas e quatro atacantes (Tabela 1).


Tabela 1
Não foram encontradas diferenças significativas após intervenção aguda ou crônica nas valências impulsão vertical e agilidade.
 Na avaliação de impulsão horizontal verificou-se de forma aguda uma melhorou significativa em ambos os grupos de alongamentos (p<0.005) em relação à avaliação inicial. Somente o grupo alongamento estático manteve o resultado num efeito crônico, ou seja, após o término das 12 sessões o alongamento estático manteve um ganho de impulsão significativo em relação à avaliação inicial (p=0.02)


Figura 19. Análise da impulsão horizontal pré e pós tratamento.
# p<0.005 em relação à avaliação inicial.
## p=0.02 em relação à avaliação inicial.


Teste de impulsão horizontal

A flexibilidade de cadeia muscular posterior aumentou significativamente nos dois grupos de alongamentos num efeito agudo (p=0.01). Após os doze dias de treinamento, somente o grupo alongamento estático manteve o resultado num efeito crônico (p=0.03). Houve uma tendência a melhora crônica também no grupo estático (p=0.056) (Figura 20)


Figura 20. Análise da flexibilidade pré e pós tratamento.
# p=0.01 em relação à avaliação inicial.
## p=0.03 em relação à avaliação inicial.


Alongamento

A velocidade aumentou significativamente em ambos os grupos num efeito agudo após a primeira intervenção (p<0.003 no grupo estático e p=0.019 no grupo dinâmico) em relação à avaliação inicial. Não foi verificada modificação desta ao final do protocolo com relação à avaliação inicial em ambos os grupos.


Figura 21. Análise da velocidade pré e pós tratamento.
# p<0.003 em relação à avaliação inicial.
## p=0.019 em relação à avaliação inicial.


Teste velocidade

Não se observou melhora da força muscular de isquiotibiais ao longo do período do estudo em ambos os grupos. Ambos os grupos mostraram uma tendência a melhora crônica da força em relação à avaliação inicial (p=0.08 para estático e p=0.09 para dinâmico).


Análise da força muscular dos isquiotibiais pré e pós tratamento.

A eletromiografia de superfície dos isquiostibiais apresentou resultados bastante diferentes entre os dois grupos. Enquanto o grupo estático apresentou uma diminuição acentuada do sinal elétrico na fase aguda (p=0.035), o alongamento dinâmico mostrou um aumento nítido na fase crônica em relação à avaliação inicial (p=0.038).


Análise da atividade eletromiográfica pré e pós tratamento.
# p=0.035 em relação à avaliação inicial.
## p=0.038 em relação à avaliação inicial.


Avaliação dinamômetro e eletromiógrafo

Avaliação no dinamômetro e eletromiógrafo


DISCUSSÃO

Apesar do amplo uso de técnicas de alongamento antes de exercícios físicos como medida de prevenção de lesões, ainda há uma controvérsia muito grande e pouca evidência científica conclusiva para apoiar esta idéia(11,12). Estudo de investigação epidemiológica cita a diminuição da flexibilidade como um fator etiológico em lesão muscular aguda(13-16). Outro estudo conclui que a melhora da flexibilidade por alongamento pode reduzir o risco de lesão(17). Recentes estudos in vitro(23-24) e in vivo(25) têm demonstrado um relaxamento do stress transitório em resposta ao alongamento passivo.
Verificamos que as duas formas de alongamento diminuíram a velocidade durante o teste agudo de 50 metros. Estes resultados corroboram com os encontrados por Fowles et al(26), que avaliou o uso de alongamento estático e descobriu que o alongamento estático antes de exercícios de velocidade poderia interferir de maneira negativa pelo decréscimo na ativação das unidades motoras, podendo ser o responsável pela queda na capacidade da força máxima após exercícios de alongamento. Achour(27) também apóia este efeito, dizendo-se que as mensagens motoras poderiam ser transmitidas lentamente por causa de deformações dos componentes plásticos musculares. Outro estudo mostrou que o método de alongamento estático com tempo de duração entre 15 a 30 segundos por grupamento muscular está relacionado com a redução da ação do recrutamento das unidades motoras(28) e, consecutivamente, perda de velocidade. Em nosso estudo observamos que no grupo alongamento estático realizado pelo período de 30 segundos levou a uma inibição da atividade elétrica dos isquiostibiais.
Se observarmos o efeito crônico, verificamos que o alongamento realizado de forma estática manteve o ganho de flexibilidade alcançado na fase aguda, enquanto que no grupo dinâmico só mostrou esta melhora no fim do treinamento. Os bons resultados obtidos a respeito da flexibilidade corroboram com os de Marques et al(29), onde constataram que o alongamento passivo aumenta a flexibilidade da musculatura dos isquiostibiais. Zakas(30) confirma uma melhora na flexibilidade quando utilizado alongamento estático por 30 segundos, não vendo resultados quando realizados por 15 segundos. Por sua vez Zenewton et al(31) descrevem um ganho de flexibilidade aguda do alongamento dinâmico três vezes por semana. Nelson et al(32), apoiam a tese de que tanto o grupo de alongamento estático quanto o grupo de alongamento dinâmico aumentam a flexibilidade isquiotibial em comparação ao grupo controle, e afirmam que não houve nenhuma diferença significativa entre o grupo de alongamento estático e o grupo de alongamento dinâmico, sendo que ambos realizaram 30 segundos de alongamento. Kieran et al(33) descrevem que o alongamento estático deve ser utilizado quando seu objetivo for um ganho de flexibilidade, sendo que após 15 minutos, o alongamento perde um pouco do seu efeito, mas mesmo assim continua com uma diferença significativamente maior do que o grupo controle.
Verificamos uma melhora da impulsão horizontal em ambos os grupos como efeito agudo. No grupo estático, esta melhora se manteve como efeito crônico. Yuktasir e Kaya (2009)(34) avaliaram o efeito tardio da realização de alongamentos estáticos e em facilitação neuromuscular proprioceptiva (PNF), onde constataram não ocorrer modificações desta valência após o programa de intervenção. Handel(35)  cita uma melhora do torque máximo em comparação ao grupo controle, observando um aumento do trabalho concêntrico dos músculos flexores e extensores do joelho, que associada a um aumento dos números de sarcômeros em série.
 Com relação à força muscular, verificamos que ambos os grupos mostraram uma tendência ao aumento da força de isquiotibiais como efeito crônico. Porém, apenas o grupo dinâmico confirmou uma ativação elétrica dos Isquiotibiais significativa na eletromiografia de superfície. É importante salientar que a grande maioria dos estudos analisa o efeito agudo das diversas formas de alongamentos na força muscular, porém não encontramos estudos abordando o efeito crônico dos mesmos. Estudo realizado em 2006 sugere que os exercícios de alongamento estático sejam dispensados quando posteriormente a atividade envolvida venha requerer grande produção de força, pois é observada a perda de força ou aumento da possibilidade de lesões(36). Tricoli e Paulo(37), ao investigarem o efeito agudo do alongamento estático na força máxima de membros inferiores, relataram que estes foram capazes de reduzir significativamente a força. Outro estudo afirmou que tanto o alongamento estático quanto o alongamento por PNF reduzem a força e a capacidade de produzir energia, especificamente, se a hipótese de que o alongamento pode ter alterado a relação comprimento-tensão e / ou a deformação plástica dos tecidos conjuntivos, tais que a força máxima de produção capacidade da unidade músculo-tendínea pode ser limitada(38). Neste estudo não utilizamos grupo controle, visto que a amostra era de apenas 18 sujeitos elegíveis. Acreditamos que há a necessidade de se realizar novos estudos com amostras maiores, uso de grupo controle e analisando efeitos tardios de um programa de alongamento para a confirmação de nossos resultados.

CONCLUSÃO

Neste estudo conclui-se que alongamentos de forma estática melhoram a flexibilidade e impulsão horizontal de forma aguda e crônica, enquanto que ambas as formas de alongamentos melhoram a ativação muscular como resultado crônico.

"Artigo escrito por:

Diego Laureano GONÇALVES¹, Tiago Sebastiá PAVÃO², Marcelo Baptista DOHNERT³


1 Acadêmico de graduação do Curso de Fisioterapia da Universidade Luterana do Brasil. Torres. Rio Grande do Sul. Brasil
2 Mestre, fisioterapeuta, professor do Curso de Fisioterapia da Universidade Luterana do Torres. Rio Grande do Sul. Brasil
3 Mestre, fisioterapeuta, professor do Curso de Fisioterapia da Universidade Luterana do Brasil Torres. Rio Grande do Sul. Brasil 

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